segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Salve-se a si mesmo!


A maior parte do sofrimento humano é um produto subjetivo, elaborado na mente. Uma pessoa ponderada deve dar-se conta que as suas ansiedades não passam em geral de sombras aparentes e os seus medos de puras quimeras forjadas na sua própria mente.

A mente humana é o abismo insondável donde emerge a avalanche destruidora arrastando sofrimentos sem conta: ressentimentos de coração e resistência da mente, rebeldias de comportamento, guerras interiores, conflitos íntimos, memórias dolorosas, recordações amargas, aspetos negativos da personalidade que não assumimos, feridas da vida não cicatrizadas, angústias.

Salvar-se disto é a arte de viver, e uma arte que só se adquire vivendo. Ora ninguém pode viver por si; portanto, só você pode e deve salvar-se a si mesmo, eliminando a angústia, recuperando a tranquilidade de espírito e a alegria de viver.

Quando falamos em "salvar-nos" entendemos a palavra como equivalente a libertação, por exemplo salvar-nos do medo, da angústia, do tédio, do sofrimento.

Salvar-se a si mesmo significa conseguir segurança plena e ausência de temor, ir passando pouco a pouco, com calma e firmeza, do estado de escravidão ao da liberdade. Tal é a tarefa sagrada que ninguém pode realizar por si; só você pode ser o salvador de si mesmo.

Nas vicissitudes da vida irá deparar muitas vezes com estímulos preciosos e esclarecedores. Hoje será um mestre de vida espiritual a dar-lhe uma preciosa orientação; amanhã um especialista a fazer-lhe um diagnóstico acertado; depois de amanhã serão os seus familiares a dar-lhe um conselho muito a propósito. No entanto, nada disso conseguirá "salvá-lo". Só você o poderá fazer, pondo em prática essas sugestões, a ver se elas o libertam ou não das suas angústias. Ao fim e ao cabo, não tem outro "salvador" senão você mesmo.

O primeiro acto de libertação é o despertar.

O homem sofre por andar como que adormecido.

Deve começar por tomar consciência de que todo o ser humano é dotado de imensas capacidades, embora não se notem por se encontrarem quase sempre adormecidas. Mas, se conseguir despertá-las e pô-las em ação, o homem é capaz de muito mais do que imagina. A condição mais fundamental, portanto, é cada um acreditar em si mesmo e na sua capacidade de se salvar. 

Só quem é amado tem capacidade de amar, só quem é livre consegue libertar, só pode ser instrumento de paz quem vive em paz consigo mesmo, os que sofrem fazem sofrer os demais, os ressentidos semeiam violência ao seu redor, quem está em guerra consigo mesmo espalha guerra à sua volta, quem não se aceita a si mesmo não aceita ninguém, os que a si mesmo se rejeitam, rejeitam a todos.

É pura utopia pretender tornar os outros felizes se nós mesmos não somos felizes. Cada um tem de começar por si mesmo. A nossa contribuição para a felicidade dos outros é proporcional à nossa própria felicidade. Amaremos o próximo na medida em que aceitarmos e amarmos a nossa própria pessoa e a nossa história.

Viver é a arte de ser feliz, e ser feliz significa superar progressivamente o sofrimento, e por esse meio conquistar a tranquilidade de espírito, a serenidade, a paz da alma. Isso pode ser conseguido com exercícios de relaxamento e práticas de introspecção e meditação.

Despertar quer dizer prestar atenção a si mesmo.



Fonte: Livro "A arte de ser feliz - orientações práticas para recuperar a paz interior, o sentido da vida e a alegria de viver", Ignacio Larrañaga, Editorial Franciscana


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