Todos os sábios das diferentes religiões nos dizem o mesmo: o ego tem de morrer para que algo de superior resplandeça em mim. A expressão grega "negar" significa "dizer que não, resistir, distanciar-se". Tenho de resistir à tendência do ego de querer tudo só para mim, de tentar arrebatar tudo para mim.
A renúncia aos bens materiais, ao poder está, em última instância, sempre relacionada com a renúncia ao ego. Porque os bens materiais e o poder fortalecem o ego. Algumas pessoas chegam mesmo a identificar o ego com os bens materiais. Nunca conseguem alcançar o verdadeiro eu. Para C. G. Jung, em contrapartida, o que está em causa é avançar do ego para si próprio. Os bens materiais, na sua opinião, reforçam a "máscara" do ego. Esta máscara pode ser tão forte, que nos tornamos incapazes de nos reconhecer a nós próprios. Mas aquele que nunca se transforma em si mesmo, permanece imaturo.
É um desafio espiritual renunciar ao próprio ego e abrir um espaço dentro de si próprio para Deus. Para C. G. Jung, apenas alcança a imagem de si próprio aquele que está disposto a integrar a imagem de Deus dentro de si. Quando Deus reinar verdadeiramente em nós, passaremos a ser nós próprios. Tal significa: libertação, salvação, plenitude.
Durante a nossa vida podemos praticar a renúncia ao ego através da meditação, do amor, da oração.
A vida quebra o nosso ego. Destrói as ilusões que construímos acerca de nós próprios. Quando ainda somos alguém ao olhos do mundo, quando ainda podemos brilhar com o nosso conhecimento, quando ainda temos bens materiais e nos definimos com base nas nossas relações, corremos o risco de nos agarrarmos demasiado a essas coisas e não conseguirmos libertar-nos.
Quem renuncia ao ego não tem de abdicar das suas relações, nem do seu conhecimento. Mas o seu valor próprio não irá depender disso. E, assim, é verdadeiramente livre.
Fonte: Livro "A sublime arte de envelhecer e tornar-se uma bênção para os outros", Anselm Grün, Paulinas Editora
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